TELHADOS
Quando entristeço
Olho através da janela
Vejo telhados marrons,
Apenas telhados
De todos os tipos e tamanhos
Vejo heras,
Subindo pelas paredes nuas
Como se agarrassem a vida
De tal forma
Como se dependesse dela.
Vejo a cidade,
Vejo o horizonte,
O verde das fazendas
A relva, os pastos.
As árvores, os animais.
Dependendo da minha imaginação,
Vejo um pé de manga cheio de
frutas,
Vejo nuvens tão brancas,
formando desenhos,
Que me perco entre elas,
brinco,
Que cada imagem engole a
outra.
Quando percebo, olho ao redor,
Não sei onde deixei a minha
tristeza,
Devo ter deixado em algum
canto da memória,
Porque depois de tanta beleza,
Eu só consigo ter paz.
Myrian Benatti
TE VI NUM BAR
Te vi num bar, na beira da
praia,
Oscilando com o copo de um
uísque barato,
Digno de seu estado.
Te vi num bar, de cara suja,
Desarrumado, olhos inchados.
Cabelos despenteados.
Te vi num bar, entre guerras
A sua guerra, sua necessidade.
Procurando a verdade.
Te vi num bar, outro uísque
Uma lágrima, várias mágoas.
Com sentido, sem sorriso.
Te vi num bar, de pileque.
Amuado, sem sentido, sem
sorriso.
Te vi num bar, na beira da praia
A olhar o nada, a andar no
vácuo
a dançar um tango, a chorar num canto.
Te vi na beira da praia, a olhar o bar,
A sentir a brisa, cortando seu
rosto.
Espalhando seu cheiro, de
uísque barato.
Te vi na praia, te vi no bar.
Te vi em cada canto.
Como se fosse um espelho da minha alma.
Myrian Benatti
CONTO DE NATAL
Quando eu era criança, eu acreditava em papai Noel, pedia
presentes normais, nada impossíveis.
Porque dentro dos meus sonhos, mesmo sendo sonhos eles eram
limitados.
Um belo dia viajando com meus pais para passar as férias de
natal na casa de uns parentes, olhei para o fundo do carro junto
com as malas, lá estava todos os nossos presentes, será que o
papai Noel tinha se adiantado?
A cara de tristeza de meu pai e a bronca de minha mãe me fez
perceber que eu fizera algo errado,tinha descoberto o segredo
deles.
Foi nesse dia que descobri que papai Noel não existia, que papai
Noel era meus pais, eu devia ter uns dez anos.
Decepção?
Tristeza?
Senti-me traída?
Não me lembro, quem mandou eu ser curiosa, quem mandou eu não
esperar o tempo certo?
Mas este é o meu maior defeito, não o pior, mas o maior.
Sou curiosa, desconfiada, sempre com um pé atrás.
Perdi a magia?
Na época sim.
Todos os anos eu e minhas irmãs fuçávamos os cantos e guarda
roupa a procura dos presentes, lembra que minha mãe dizia que
era o papai Noel que trazia os presentes, que ele havia trazido
antes porque sabia que íamos viajar, mas não adiantava, a magia
se fora.
Você cresce , amadurece, esquece e adormece.
Um belo dia você acorda e começa a acreditar em magia, no
espírito do natal.
Por que isso?
Porque você quer acreditar.
Porque você aprende a confiar.
Porque você se apaixona.
Porque você entende o significado do velhinho barbudo, alegre,
gentil.
Porque ele não lhe traz só presente, mas lhe trazem lembranças,
lembranças de felicidades, lembranças de infância.
E também fica a pergunta para você que está lendo este texto:
__ porque o espírito de natal, do papai Noel está presente em
você?
MYRIAN BENATTI
Certas
Dores
Certas dores só
se sentem quando o coração se parte.
Meu coração está partido pela dor de tê-la magoado.
Um dia pensei em fazer um poema a você,
Mas não sabia nem por onde começar,
Sempre lhe achei forte demais, grande demais.
Não caberia em qualquer poesia, poema ou prosa.
Você tem o poder da força de uma leoa,
A delicadeza de um passarinho pousando numa flor.
A paciência de um monge para seus discípulos.
Como falar de amor para você?
Não sei.
Hoje seria difícil, mas meu coração sabe,
O seu também sabe que um dia isso vai passar.
Não adianta as minhas lágrimas caírem.
Não hoje que estou sofrendo, por ter te magoado tanto.
Mas sei que você sabe que te amo.
Claro que isso não vai fazer você me perdoar hoje,
Mas um dia quem sabe.
Myrian Benatti
Estes poemas fazem parte do livro
Fragmentos da alma