"Ausências a duas mãos:"

 Aqui temos um belíssimo dueto em prosa, ao qual não resisti em publicar.

Maria Teresa & Jota Há

Divagando seus sentimentos solitários, estes dois amigos nos proporcionam uns minutos de suave leitura, através de suas prosas, onde muitos leitores concerteza se identificarão. Quem de nós  não tem seus momentos de ausência ? Embora em lados opostos do Atlântico, estes dois autores nos deliciam com estes momentos reconfortantes.

Obrigada, Maria Teresa...Obrigada Jota Há.

Cecília Rodrigues

 

Nas tuas ausencias

Os silêncios

são palavras não ditas

mas que eu desvendo

são saudades

que não desejas

mas te atormentam

recordações

que omites

mas te perseguem

erros negados

mas que persistem

amores passados

que regressam

Ás vezes és assim!

Pássaro moribundo

sem destino, sem poiso, solitário.

Ás vezes percorro as distâncias

e consigo ser a terra

quente e forte que te acolhe

Mas é tão difícil, meu amor

acompanhar-te nessas

obscuras caminhadas

onde não há lugar para mim!

Mar

(T.E. - 15/01/2006)

DESCONHECIDA AMIGA

Amiga, tua ausência se difere das demais. Alguém está ausente, quando esteve presente, ou está presente, mas seu pensamento voou para bem distante. Enfim, a ausência é a ausência da presença. A tua é diferente e estranha, tu nunca estiveste presente!

A janela está aberta. Não consigo vencer a tentação. Vou olhá-la. Poderia ser que tu estivesses chegando. Mas nada. Tu não vieste. Vejo apenas a imensidão do céu estrelado e sinto o silêncio melancólico da noite. Não sei porque não quiseste aparecer. Não quiseste ver-me. Por que não vens para conversarmos longamente, assim, face a face? Há anos te espero. Vem. Assim, caminharemos os dois, numa estrada longa, em que poderemos colher flores; ou uma avezinha virá cantar para nós. Pode ser que tropecemos ou caiamos, mas continuaremos nossa jornada. Nesta estrada poderá caminhar conosco muitas vezes, a dor, a ilusão, o amor, o medo, a alegria, mas isto não impedirá que estejamos sós. Bastará não olharmos para eles. Esta estrada, não sei se já ouviste falar dela algum dia. É a estrada da vida. Vem. Vamos amar a vida, a natureza, o amor. Ouviremos a música dos imortais, diante do céu estrelado, ou veremos de nossa janela, a chuva que umedece a terra. Apreciaremos o cair das folhas do outono, as árvores secas e tristes do inverno, assim como as flores que desabrocham na alegre primavera.

Vem amiga. Não temas. Tenho coisas lindas para dizer-te e quero ouvir as coisas belas que deves ter para contar-me.

Olha! O sol está se pondo. O crepúsculo é lindo! As folhas estão começando a cair. E com isto, mais um dia termina e uma estação também...

Vê! Mais uma vez estou sozinho!

Logo as árvores estarão nuas, secas... É tão ruim estar só no inverno! Vem amiga, vem...

Jota Há ( Brasil )

 Nas Tuas ausencias continua

Maria Teresa

Nesta manhã de Inverno fria e branca, abro a janela e consigo adivinhar que o dia vai ser igual a tantos outros. Sinto-me estremecer e não consigo perceber, como em muitas manhãs, se é do frio que faz lá fora ou dentro de mim.

Tenho que ir mas o que eu quero é ficar!

Esperam-me rostos opacos, trabalhos que não gosto, palavras repetidas e cansaços de uma vida que se vai esgotando.

Estou a demorar-me. Tenho que fechar a janela para que o frio não me torture durante este dia que agora começa para mim.

Gosto tanto do calor! Mas ele tarda em vir.

Mar ( Portugal )

AUSÊNCIA

Jota Há

Minha querida e adorada amiga desconhecida,
musa inspiradora dos meus ais,
não suportando mais a tua ausência, conto-te:
estranhei que tua casa
fosse exatamente como ela é e
que as portas e janelas
estivessem fechadas.
Mas... entrei.
Procurei não fazer ruído
para não perturbar o presente silêncio.
Pensei que estivesses dormindo!
Mas tu não estavas,
a casa estava vazia...
Os móveis empoeirados,
os velhos livros abandonados
na estante, as cortinas amareladas,
os animais daninhos e as teias
denunciavam tua longa ausência...
Não sei porque te ausentaste
antes da minha chegada.
Andei pelos quartos, pela sala,
devagarinho, receoso,
para não acordar os fantasmas
do passado.
Tudo estava sombrio, roído,
sem vida.
Então, não te encontrando, voltei.
Voltei solitário como sempre
e com saudades da esperança
que tinha em conhecer-te.
Parti e não te encontrei jamais.
Aquela casa ficou para sempre
abandonada e suas janelas
para sempre fechadas.
Para sempre,
minha queria e desconhecida amiga.

Desencontro

 M.T.( Mar)

Senti quando chegaste

Era noite e eu escrevia

Nunca me verias

Mesmo se fosse dia

Escrevia folhas

Molhadas de prantos

Em linhas de desencanto

Escrevia versos

Ditados pela dor

Do nosso desencontro

Não, nunca sonharias

que era a ti que eu escrevia

Senti o teu andar

pelos quartos vazios

em que me tornei

Senti que te perdia

Quando me olhavas

No espelho dos olhos

E não me reconhecias

Porque me procuras

Onde não estou

Porque me sonhas

O que não sou

Porque me escreves

Palavras de amor

Versos de flores

Que não são para mim 

Mar

(T.E. - 20/03/06

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