CINZAS
Andrade Jorge
Brasil
Pioneiro desbravador dessa
imensidão,
Flutuo nas veredas dos sentidos
Descobrindo a nascente da
emoção,
Queimo o presente no cigarro que
fumei,
Jogando as cinzas sobre a amante
solidão.
Ouço vozes, ecos perdidos do
passado,
Ando na noite, ando no dia,
Sinto a aflição, escuto a vã
filosofia
Do ser atormentado, condenado,
Observo um anjo fingindo,
fugindo,
Peso o peso dos pecados feitos a
esmo,
E dos grilhões que vão
aprisionar,
Porque ninguém foge de si mesmo.
Busco, procuro o futuro
No horizonte dessa imensidão,
A dor do tempo já espalhei
Feito as cinzas do cigarro
Que solitariamente fumei,
queimando a solidão,
Fruto amargo desse chão.
Serei cinza amanhã,
Hoje não...
ANDRADE JORGE
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25/09/05
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