Lá no Céu,
Lá bem no cimo,
Um anjinho pequenino
Passava todos os dias
Olhando para as estrelas.
Eram tão lindas, tão belas,
Que ficava horas sem fim
Cheio de alegria por vê-las
Enfeitar tudo em redor…
(Não havia até melhor
luz que se conhecesse…)
Que importava que
estivesse
Ali, se era pequenino,
Se no Céu não se trabalha,
Nada se exige a um menino?
E ele era feliz assim…
Às vezes, anjos mais
velhos,
Sempre vinham dar conselhos:
“Vai deitar-te! Aí ao frio
não podes permanecer!
Não fica bem a um menino
Estar assim tempos a fio
E das horas se esquecer!...”
Mas ele era um sonhador…
Pensava: “lá bem ao fundo,
Não haverá outro mundo,
Qualquer coisa de diferente,
Seja melhor ou pior,
Que um dia vá lá a gente?”
Que bom seria ir
espreitar,
Com suas asas voar,
Tão depressa, tão ligeiro,
Para à noite regressar
Com sonhos de um dia inteiro…
Às vezes, Nosso Senhor,
Por alturas do Natal,
Passava por ele e ia
Voando assim tal e qual
Como ele idealizava.
Descia…e não demorava.
Aonde iria afinal?
-Indagava-se o anjinho.
E, à noite, ao ir deitar-se,
Pensava nisso sozinho.
Era a ânsia de saber
O que ninguém lhe dizia…
Ir também? Podia ser?
De certeza, não podia.
Seus pais não consentiriam
Uma saída do Céu!
E, pondo a ideia de parte,
Muito triste, adormeceu.
Mas como tudo o que existe
Tem seu quê de interessante,
Aquela noite tão triste
Seria a mais importante:
A Virgem tinha notado
E das trevas fez-se luz:
Pois vendo assim o anjinho,
Triste, pensando, sozinho,
Comunicara a Jesus.
E, ao menino, da janela,
Disse-lhe assim meigamente:
-“Voa até à maior estrela,
Verás que ficas contente”.
Dormia tudo em
sossego.
A noite metia medo.
Mas ele, mudo e contente,
Teve de ir mesmo assim cedo.
E indo até à tal estrela,
Foi encontrar Jesus Cristo,
Ficando tão boquiaberto
(que agora estava desperto)
Ao observar tudo isto:
Sacos cheios…uma
montanha!...
Com brinquedos, com comida,
Que coisa tão linda e estranha
Nunca vira em sua vida!
Eram centenas, milhares,
Com coisa tão variada,
Que ele ficou meio tonto
Sem conseguir dizer nada!
Disse-lhe então
Jesus Cristo
Em tom sereno e profundo:
-“Vamos levar tudo isto
a crianças de outro mundo.
vamos encher corações
de alegria e de ternura;
Há outras ocasiões
Mas esta é a melhor altura,
Pois no Natal eles esperam
Sempre pela minha visita.
Quero então que vás comigo
E ver o que lá existe;
Deixarás de ficar triste
Que é uma viagem bonita.
Quanto aos teus pais, já
lhes disse:
Ontem falei no assunto
Sem tu teres dado por isso.
-Partamos com alegria!
Esse monte aí ao lado,
Esse que está aí junto,
Agarra nele…e eu levo
Todos os outros comigo.
Comecemos a voar,
Verás que vais adorar,
Anda daí meu amigo!”
Não podia acreditar
O nosso anjinho, coitado!
Ir ver o que sempre quis?
Ser de repente feliz?
Estaria mesmo acordado?
Mas começou a
viagem…
Jesus cantava baixinho…
O anjo, de tão contente,
Ia ouvindo, caladinho…
Lá foram por entre
estrelas,
Planetas, sempre, sem fim,
E viram coisas tão belas
Que o anjo pensou assim:
-“Haverá alguém no Céu
ainda mais feliz do que eu?
Que vou aqui com Jesus,
Em fantástica descida,
Vou dar brinquedos, comida,
Vou a casas fazer luz
A gentes necessitadas?
De certeza que não
há
Ninguém tão feliz assim!
Só quero que tudo isto
Não chegue depressa ao fim!...”
Nisto pensando,
notou
Um planeta enorme à frente…
Com árvores, rios e mares,
Casas onde havia gente…
Jesus disse-lhe:-“é a
Terra,
é este o nosso destino.
Vai dar tudo o que aí levas!
Não deixes nenhum menino
Sem brinquedos ou comida!
Que eles não fiquem nas trevas!
Dá-lhes Luz, Amor e Vida!
Por outros lares
diferentes
Fazer o mesmo irei eu.
Depois então voltaremos
De madrugada pró Céu.
Lá foram, para cada lado,
cumprir as suas missões…
O anjinho dava, contente,
do que tinha, àquela gente,
enchendo-lhe os corações
de alegria e de ternura…
Dando força a quem levava
uma vida assim tão dura…
E deu tudo até ao fim.
Esgotou tudo o que levava.
Mas tanta gente feliz
Numa noite ele deixava!
Já era quase manhã
E ia p’ró seu destino,
quando notou a chorar,
e, de frio, a tiritar,
muito infeliz, um menino.
O anjinho olhou para os
sacos
E estava tudo vazio.
Mas como deixá-lo ali
Sem nada, a morrer de frio?
Teve uma ideia feliz:
Foi buscar uma estrelinha,
Desceu e deu-a ao menino
Para aquecer-lhe a casinha.
E ele ficou todo
contente!...
Mas disse, preocupado:
-“Olha que no céu talvez
alguém tivesse notado…
-Leva-a daqui mas põe
perto,
tão perto que ela me aqueça.
Pois se a pões onde me abrigo
ainda vão ralhar contigo,
não é coisa que se ofereça…
-Basta que fique baixinha
que eles vêem-na ali;
Aquece toda a casinha
E vou lembrar-me de ti”.
O anjinho concordou
E a seguir desapareceu…
Nunca mais ninguém o viu
Desde que voltou pró Céu.
Mas a tal estrela
brilhante
Que veio dessa ideia sã,
Ainda hoje lá está sozinha
e das outras bem distante:
-É a ESTRELA DA MANHÃ.
Joaquim Sustelo
20.l2.1987
(Ao Rui Pedro e Sónia
Raquel, meus filhos, que, à data em que escrevi este poema em
conto, tinham respectivamente, 12 e 9 anos. Uma dedicação
especial ao Rui, que foi com base numa redacção que fez sobre o
tema, que eu depois adaptei para verso. Teve uma classificação
muito boa e um elogio da professora e com orgulho veio
mostrar-me. Com não menos orgulho, fiz então este poema).
+Poemas do autor
Voltar
Menu
Livro _1 _ Ler