Casca de Noz
Eu... Que me sinto às vezes uma casca de noz E como um barco desço o rio das madrugadas Que tenho no teu corpo a mais bonita foz Sou um tonto á deriva nestas águas inspiradas. Eu... Que por vezes não entendo os teus sinais Nem tenho na distância o sabor da felicidade Que desejava ver no silêncio dos meus ais... Só me afundo no perfume de uma saudade. Eu... Que nesta vida não sou mais nem menos Nem quero a distinção de quem passa por mim Que a diferença só traz sonhos obscenos E todos vamos caminhando para o mesmo fim. Eu... Que ando nesta selva de gritos prepotentes Em que as árvores morrem sem saber porquê E não é o vento que nos mata as sementes Mas o poder com o machado que ninguém vê. Eu... Que já estou cansado de não ter o sossego... A Paz que desejava quando quero aqui escrever Não as palavras a que o mundo tem apego Mas tudo o que me impede de ser livre e o dizer. Eu... Que levantei o rosto para ver a desgraça Daqueles a quem são negados direitos universais Navego por este rio e digo a quem passa... Eu sou poeta. Às vezes, casca de noz, e nada mais.
F. Corte Real Barronhos, 09 de Novembro de 2006 Portugal
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