Introdução...

Não se trata de musa bela,
sob o luar que é de prata,debruçada na janela,
a ouvir uma serenata...
É de outra musa este tema, bem real e verdadeiro,
sem tecto,
sem amor matar a fome é o seu lema ,
um mundo onde a Esperança partiu para lugar incerto,
abraçar a dor e a indiferença é a dura realidade .

Para estes autores fica aqui registado um sentimento comum,
a vontade de trazer a Esperança de volta para quem tem o céu como abrigo na madrugada
um banco de jardim como leito e a relva molhada .
Obrigada a todos os poetas que aqui deixam este grito sentido...aos "sem abrigo" aos "Filhos Da Calçada "

Todos estes autores, participam em grupos de Poesia da MSN, a excepção de Adelmário Sampaio que

Participa na "Usina de Letras"

Jussára C Godinho _ Veio se juntar a nós nesta caminhada em 2008 nunca é tarde ...Bem - Vinda Jussára!

Os meus sinceros agradecimentos a todos estes autores que abrilhantaram  esta ciranda.
"Obrigada Poetas Amigos"
Cecília Rodrigues

 

Meninos de rua

Por Jussára C Godinho

O dia era frio, muito frio, chuvoso, nublado e escuro, a sensação era de que o vento cortava, sangrando a pele. Poucas pessoas arriscavam sair às ruas. O mês de junho, no extremo sul do país, maltrata alguns cidadãos.

Envolvida em mantas de tricô, os famosos cachecóis, luvas e botas de couro legítimo, a Madame pára seu carro importado no sinal vermelho. Surge a sua frente um menino adolescente, quase moço, muito magro, corpo quase nu, coberto com tinta prateada, mexendo seus malabares. Mal podia acreditar que alguém pudesse suportar aquele frio em pêlo. Misérias do mundo! A Madame tira da bolsa, etiquetada com marca internacional, algumas moedas - que sobraram, talvez, do cabeleireiro, da massagem, da manicure?- para pagar o show.

Na quadra seguinte, outro sinal vermelho, fechado, gritando Pare, Olhe, Atenção! Outro menino, agora criança, vendendo balas, no carro se encosta. Nas costas o peso de ser diferente, carente, tão pequeninho, lutando sozinho, vendendo bala, cheirando cola, sem escola, pedindo esmola. Mas quem dá bola para um vendedorzinho de bala que só precisa de colo, de carinho, de uma boa escola, de um prato de feijão e de um pouquinho de atenção?

Enquanto a Madame seguia seu caminho sem olhar para trás, o menino seguia sua espera, espera, espera...

 

http://br.geocities.com/euosou2/jussara_meninosderua




***

Aquele Menino


Aquele menino corre seu caminho
Descalço, roto e sempre esfomeado
Sua estrada não é feita de tapetinho
De duras pedras é seu chão forrado

Saltita ainda assim tão sorridente
-Senhor, dê-me um pãozinho por favor!
Sorrindo vai seguindo sempre enfrente
Nesse chão, feito de pedras e de dor!

São assim  dias seus...e noites frias...
Até que uma mão  lhe afague o rosto
Já que alegrias , roubaram no seu lar

Quem dera ter varinha de magias
Devolver-lhe a luz que era dele suposto,
Num tecto onde haja pão e o amor sobejar.
 

Cecília Rodrigues
Abril/2005
Portugal

***

Menino de Rua

E a criança que Jesus foi um dia
Sofrida naquela infame perseguição
É a maldade do Mundo na periferia
Que persiste, não desiste essa maldição

Acordar de manhãzinha e à partida
Ter carícias de mãe e seu amparo
Era para a escolinha a sua ida
Era tão pouco o que parecia raro;

Um beijinho de mãe no seu rosto
Comida na mesa desconhecer a fome
Passear num jardim ao sol_posto
De volta a casa, ter um lindo nome

Mesmo que de um casebre se tratasse
Não importava o luxo nem a beleza
Apenas, muito amor que ali abrigasse
Era seu Castelo onde tinha a certeza:

Podia sonhar,tinha quem o abraçasse
Podia cair, tinha quem o segurasse
Podia errar , tinha quem o perdoasse
Podia pedir tinha quem o alimentasse

E era tão pouco o que parecia raro
Longe de tudo... e tão perto se via
Luxúria beleza e ele sem amparo
E era tão pouco tudo o que queria

Cecília Rodrigues
Maio/2005
Portugal

***

A Criança e seus Direitos Violados

Denominam-te de criança esperança
Em tuas mãos depositam a confiança,
Para um mundo melhor construires
No entanto, esquecem de te fazer criança.

Criança que brinca, estuda, se alimenta e sorri
E que nessa esperança ao vil mundo se lança,
Pedem que a ti não se dêem esmolas
Que te seja dada sim, cidadania.

Porém a própria sociedade torna teu direito utopia
Cada dia mais longe estás, criança, vivendo uma alegoria
Em teus olhos permanece sim, a dura melancolia
De te lançares ao mundo em busca do prometido no dia a dia.

Ver-te dormir embaixo de pontes, viadutos, das calçadas
Como te negar uma esmola, à espera que te concedam cidadania?
Saciar-te a fome é preciso, necessidade imediata
Que fizeram dos teus estatutos, criança abandonada?

Ver-te jogada ao léu, acompanhar o descaso aos teus atributos
Oh! Deus Onipotente, Onipresente e Onisciente!
Vela por essas crianças, nas suas vidas faz-te presente
Na atual conjuntura, são pessoas inocentes e carentes.

Nós, como pais que a nossos filhos podemos educar
Comprar-lhes presentes e nesse dia comemorar,
Supliquemos ao Senhor: Velai por nossos filhos
Velai e protegei também aqueles pequeninos.

Jogados ao relento, crianças violentadas desde cedo
Moralmente e fisicamente quando tentam a sobrevivência
Na busca de que lhes dêem um trocado por uma bala
Ou no intento de limpar um pára-brisas.

Sociedade ainda vil e má que mesmo assim
Quer levar vantagem sobre elas,
Deus, continua protegendo nossos filhos
Mas, olha principalmente por estes pequeninos..

Mercedes Pordeus
Brasil

***

Dando Asas ao Sonho

Menino da rua
a quem tudo foi roubado...
Resta-te apenas o sonho
oásis no teu deserto de carícias
fogo que derrete
o gelo nas tuas mãos vazias
E dando asas ao sonho
qual papagaio de papel
vês teu lar
na casa ajardinada
que espreitas do asfalto
sonhas tua doce mãe
na dama que de passagem
te afaga distraída...
E sempre alimentando o sonho
é merenda saborosa
o pão seco que te estendem
e é teu corcel de brincar
o manco cavalo de pau
descartado na lixeira...
E sonhando o sonho que te resta
são reinos de ventura
e aventura
as ruas que percorres
esmolando de pés nus

Carmo Vasconcelos
Portugal

***

Bolinhas Venenosas

O sinal aberto elas estão ao lado
O sinal fecha os carros param
As motos cortam e elas
Na frente estão
Atravesso e vejo
Eles sós e bolas na mão
Mas as mães não as vejo
Onde elas estão?
Se não há mãe ?
E a mãe pátria onde está?
Tem imposto que se cobra
Mas para eles não retorna
Pelo menos para eles ou para nós
Que os vemos e nada podemos fazer
Se lhes pagamos para a bola jogar
Lá mais na frente vamos nos cobrar
O sinal abre os carros andam
Vamos lá na frente outro sinal encontrar
E bolas na frente os meninos a jogar
Bolas pra nos envenenar

Denise Fiqueiredo
Brasil

***

Meninos
Qi_Paz

Sorrisos quase iguais
Neons de ricos analíticos
Como almas sequestradas.
Permutam triliões virtuais
Sem fim nem liberdade
Mãos rotas sempre iguais
Apenas nada mais.
Meninos sempre serão iguais
Atiram sonhos ao ar para quem os apanhar
Esperam que lhes dêem vez ao Luar
E um sinal que não os mande parar!

Felizes os meninos que podem SONHAR!

Fernando Pascoa
Portugal


***

Menino da Rua

Menino da rua
segue teu destino
Seja a minha, ou a tua
mas vai meu menino

Destino traçado
um dia ao nascer
estás condenado
em teus dias sofrer

Espiando pecados
sem culpa de nada
Seus pés magoados
da dura calçada

De olhos no chão
falando sozinho
Pedindo um tostão
Desejando um carinho

Mãos cheia de nada
Seu corpo franzino
Qual alma penada
Seguindo o destino

Procura com esperança
mas com alma nua
Tem fé na mudança
Menino da rua

Ventura Telo
Portugal

***

Fala do Pequeno Vadio

Rua minha casa
Chamam-me vadio...
(Se eles soubessem!)
A fome arrasa...
Sinto frio...
(Se eles soubessem!)
Sem mãe
(em que esquina está ela?)
Sem pai
(qual? onde? quem?)
Só a malta daquela viela
Que para a caça sai...
Rua minha casa
Onde sou rei e senhor
De um mundo de fantasia
(Bolas, a fome arrasa!)
Onde existe o amor
E a alegria
(diz o autor:
lugares comuns?
porque não?
Não é este o motor
que impulsiona uns
e outros atrás vão?)
Rua minha casa
Onde procuro a sorte
Boa? Má?
(Merda!, que esta fome arrasa!!!)
A vida não dá...
Porque não a morte?...
Que tenho eu a perder?

Visitor -Portugal


***

Menino deRua
Luz

As calçadas andam cheias
Os meninos perdidos
Soltos por quem os devia prender
Não com correntes mas com carinhos
Carinhos que são laço
Não só com um abraço
Mas com pão ,escola e formação
São meninos de rua vergonha de uma nação
Poderosa em exércitos
Políticas e comunicação
Mas deita fora na rua
Os meninos coração de uma nação
Há tempo para redmir
E da rua faze-los sumir
Para entrar em casas
Com conforto e pão à mesa
UMa família com certeza
Já se torna realeza
Ser filho ter mãe e pai à mesa
É o que ele quer com certeza.

Denise Figueiredo
Brasil

***


Poema de Augusta Franco

à porta da igreja
menino
miosótis
olhos tristes
coexistes
com a minha
amargura em ti
sorriste
à porta da igreja
na riqueza
que sobeja
de almas bem vestidas
do gesto tão esquecidas
nem sabem que estás aí
mão estendida
vida ferida
nossa vergonha
que se veja...
e o corpo esguio
veste o frio
das moedas
que te deixam
caídas
vestidas
de acaso
e boné no chão
menino
miosótis
olhos de encantar
sorris
na injustiça
não deixas de sonhar...

Augusta Franco (ludus)
Portugal

***


Meu Papai não é Noel

Meu Papai não é Noel!
Ele é humilde
Não vem do céu!
Sua barriga
Não é tão grande
Ela é magra
E sente fome...
Ele anda sujo
Trabalha muito
Faz muito esforço
Constrói o mundo
Ele é honesto
Não tem malícia
Mas sempre o param
- “É a polícia...”
Não tem sossego
Não tem horário
Não tem descanso
Ele é operário
Se não suporta
Não tem perdão
Vai assim mesmo
Ele é peão!
Vive lutando
Nesta cidade
Diz que vou ter
Uma faculdade
No fim do ano
Fica tão triste
Tenta provar
Que Noel existe
Ele não sabe
Que entendo tudo
E tenho orgulho
Embora mudo
A vida é assim
Isso eu já sei
E só trabalho
Esperarei
Não me iludo
Com meu futuro
Sei que amanhã
Me será duro
Será que um dia
Vou poder ter
Uma alegria
Em meu viver?
Não sei de nada
Só sei que sigo
Em minha espera
Talvez consiga...
Mas falta muito
‘inda sou criança
No coração
Só esperança
Pois minha vida
Não é Rosa
Se tenho coisas
É só uma prosa
Esta é a verdade...
Não tenho Noel...
Que traz presentes
E vem do céu...

Celso Brasil ©
Out/2002

***

Menino de Rua

Lá vai o menino pobre,
vendendo os bolinhos
que a mãe fez com carinho
para o sutento do lar,
Quem vai querer? Quem vai comprar?
Tem bolo de tapioca, laranja e maracujá.
Quem vai querer? Quem vai comprar
Lá vai ele sem camisa, de pés no chão.
Quando no fim do dia, de longe os seus
irmãozinhos gritam: "Lá vem o Pedrinho!"
E aquele apurado do dia se transforma em
alegria, é trocado pelo pão.

NELL-Brasil

***


Caso Verídico

Ainda pequenino,
Sorriso no rosto eu vi!
Espreitar o ônibus parar, eu vi!
Com certa timidez se aproximar eu vi!
Coraçãozinho apertado Pregou e eu vi:!


_Gente!Eu não sou perigoso não... não sou !
Não sou um assaltante,
Eu sou uma criança com fome!.
Só quero vender passoquinhas, eu tenho nome!


-Quem vai querer ajudar... é só comprar !
Não quero pedir , só quero trabalhar !
Tenho aqui estes docinhos ,
Que a mamãe preparou com carinho,
Eu de manhã logo cedinho,
Sigo o meu caminho.
E eu vou vender tudinho...
Para a casa sustentar !


-Obrigado moço por ajudar !!!

Cecília Rodrigues


""Caso verídico, presenciei a quando de umas férias há alguns anos ao Rio de Janeiro...cena para nunca esquecer ... ""

***

De Bico, Fome e Lixo

o bico
sem medo
comendo lixo
contendo bicho
se o nome do homem some
no lixo que o homem come
se o homem sem nome fixo
na dor da fome do homem
da cor do lixo que come
o bicho que mora no lixo
do bico que come homem
e o tédio do outro bicho
o homem comendo do nicho
com medo do bico que punge
é o gérmen assustado com o bicho
se fome acaba no bico
e se ave a fome consome
sem nome me vejo um lixo
nem mesmo serei um homem

Adelmario Sampaio

A Viagem de Ida
Escapei do espaço
entre dois ritos:
Do pai, o riso
da mãe, os gritos
Sem alegrias
ou sentimentos
passei meus dias
ante tormentos...
Amarga sede...
Carrasca fome
Quase sem vida...<
Lembrar meu nome?
Esqueço nomes...
Não sei... que mesa?...
Não, nem vergonha
Que é, magreza
(Sou pra você, ave atrevida,
o que eu mais quis
...comida
Não tenho volta...
lembrei meu nome
Sou o contrário,
chamam-me
Ida.)

Adelmario Sampaio

As crianças e o futuro...

 

Dias de angústia urzes na escuridão,

palco onde as crianças

desnudadas caminham pelas ruas

sem casa, sem pais, e sem amor.Paredes tingidas de rubro!... Sangue inocente

que corre na berma.

 

Filhos do nada e de ninguém

na incoerente prole incendiada...

como o ritmo do mar entre os rochedos

falando ás gaivotas do sol que não nasce...

 

E as estrelas que correm no asfalto frio

nas manhas incompletas de sonhos,

 terão amanhã a fogueira aliciante da verdade

nas primícias gritantes, de um sol ridente

 

Ferdi a 16.11.05

 

Nas calçadas da cidade

Por Denise Figueiredo

Nas calçadas da cidade
Passando e vendo a maldade
Vejo rios de meiguice
Olhando a meninice

São meninos com sorrisos
De quem está longe do ciso
mas um olhar de mêdo a chorar
procurando quem lhes deixe amar

É somente o que pedem
Amar e se deixar amar
Para na vida como na rua
Em paz e segurança

poder atravessar

São meninos e meninas
que elegeram a rua
Como casa e como lar
Para viver e morar

D.F.

 

 

 



 



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