O Vértice Luminoso I

 

 

 

O Vértice Luminoso II

 

 

Origem do dia do Pai

 

Segundo a narrativa da origem deste dia ...a rosa foi escolhida como símbolo_vermelha para os vivos_branca para os que partiram.

 O dia do Pai_Em Portugal Comemorada 19_03_toda a informação no texto acima .

Aos poetas amigos que abrilhantam esta ciranda

Cecília Rodrigues__Maria Teresa__Isabel Fontes__Joaquim Sustelo__Ferdinando__Sueli do ESpirito Santo__

Marcial Salaverry__Euclides Cavaco__Gazi Henriques Ventura__Augusta Franco__Carmo Vasconcelos

 

 

EXCERTOS DO MEU ROMANCE 

 "O VÉRTICE LUMINOSO DA PIRÂMIDE"

 

                            

CARLOS, MEU AMADO PAI BIOLÓGICO

(JÁ FALECIDO)

 

 

Vejo lágrimas nos olhos da minha amiga quando me fala do pai. Baixa estatura, moreno, grandes olhos negros, lábios cheios e sensuais, uma inteligência muito acima da média, um humor subtil, quase britânico, uma ironia fina, um desprezo exagerado  pelos bens materiais; um conversador nato, uma alegria transbordante, um amante inveterado, um sedutor. Um “gentleman” e um “play-boy”. Não obstante, um coração do tamanho do mundo!

 

*

 

Foram tempos duros. Carlos fazia escritas para firmas, arranjava empregos com facilidade. Além do curso de Contabilista que seus pais lhe haviam legado, era inteligente, inventivo, senhor de um expediente a toda a prova. Porém, os vícios da juventude ainda persistiam nele. Noitadas, mulheres, jogo, e amigos com quem dissipava tudo o que ganhava, deixando Diolinda e o primeiro filho já nascido, esperando pelo sustento. As esperas da companheira, não raro por vários dias e noites, eram pacientes. A paixão ainda era grande!

 

– Estive no Porto, querida, trabalho importante que me fez ganhar bom dinheiro! – Explicava Carlos quando voltava.

 

O certo era que enquanto esse dinheiro durava Carlos não aparecia. Mas à chegada, cobria Diolinda de beijos, saudoso e apaixonado. E, curioso, sempre com um presente para ela – flores, bombons, meias de seda.

 

– Não é disto que preciso, nem eu nem o nosso filho! – Insurgia-se Diolinda, mais madura, brigando por uma vida estável.

 

– Temos de alugar uma casinha! Tens de aceitar um emprego fixo, um ordenado certo todos os meses! – Dizia-lhe, meia sufocada entre os seus braços.

 

 Recordo-vos que Diolinda tinha então vinte e seis anos e Carlos apenas vinte. Própria da sua imaturidade e do seu espírito sonhador, era a resposta que ele lhe dava:

 

– Não te preocupes, querida, eu ganho o dinheiro que quiser, hei-de cobrir-te de jóias, e não é uma casinha que quero para nós, há-de ser um palacete!

 

E Carlos afogava-lhe as frustrações com beijos, com devaneios, com a sua eterna sedução! E nessa confusão de sentimentos mais filhos iam sendo gerados.

 

Porém, emprego fixo, ordenado certo, horários a cumprir, nada mais abominável para Carlos. Tudo isso era demasiado vulgar para ele. Era um ser livre, o risco e a aventura corriam-lhe no sangue. Vivia no limite, mas era um prazer sentir que a sua inteligência, a sua argúcia para tornear situações, a capacidade que possuía para arranjar colocações vantajosas, eram inexcedíveis. E assim foram decorrendo os anos... Carlos fazia esforços para dominar a sua natureza. Aceitava o tal emprego fixo, o tal ordenado certo. Mas breve se libertava dos grilhões e das “casinhas burguesas” que montava para agradar à mulher que amava. A casa dele era o mundo! Queria ser empresário, montar o seu próprio negócio, trabalhar por conta própria, sem donos, sem grilhetas.

 

Sobre esta já numerosa família, (3 rapazes e eu) pesavam, como um desígnio cruel, dia a dia, mais revezes. Como é fácil de adivinhar, sendo Carlos um espírito livre e inconformista, não pactuava com o vigente regime de Salazar. Várias vezes suspeito de acalentar ideias subversivas, não escapou a diversas detenções levadas a cabo pela então PVDE (mais tarde denominada PIDE).

 

(Meus pais vieram a separar-se, tinha eu 3 anos. Mas sempre privei com ele e sempre o admirei e amei. Veio a falecer em Luanda (Angola), onde ainda beneficiei da sua companhia durante 2 anos.)

 

 

ANTÓNIO, MEU AMADO PAI DE CRIAÇÃO

(JÁ FALECIDO)

 

 

“Recordo o tempo da minha infância e o meu padrasto, santo homem, muito digno nos seus fatos escuros e colarinhos brancos engomados, alto e imponente, em quem, somente uns olhos azuis escondidos sob grossas lentes, denunciavam a suavidade da sua alma. Tal figura e indumentária levaram a vizinhança a, durante algum tempo, julgá-lo padre. Como nos rimos, quando o soubemos! O meu padrinho tinha uma predilecção muito especial por Sintra e era lá que nos levava, invariavelmente, todas as semanas, de comboio. A variante era a Praia das Maçãs ou Colares, que fazíamos a partir de Sintra, no velho eléctrico.

 

Com ele, minha mãe, eu e Eduardo, fazíamos longas caminhadas pela subida que conduzia da Vila ao Palácio da Pena, que o meu padrinho fez questão de nos mostrar por dentro e por fora. A meio da caminhada deliciávamo-nos com o farnel preparado pela minha mãe, a que não faltava a toalha de quadrados que estendíamos sobre uma das velhas mesas de pedra do Parque das Merendas. Eu parava a cada passo para contemplar as hortênsias coloridas que ladeavam o caminho, para admirar as casinhas minúsculas que se avistavam nos vales e, imagem que nunca esqueci, os tanques cobertos de colchas de limos verdes aos quais eu e meu irmão lançávamos pedras para confirmarmos se tinham água. Algumas vezes, fazíamos a subida nos tradicionais carros puxados a cavalos, ainda hoje existentes, e eu sentia-me como uma princesa a caminho do seu palácio.”

 

*

 

António tinha nascido sob os auspícios do signo de “Balança” e identificava-se perfeitamente com os seus canais astrológicos. Segundo a minha narradora, “Balança”, além de abarcar as características do signos de “Ar”, que já descrevemos, é o signo do equilíbrio, da harmonia, da compreensão humana, da amabilidade, da doçura, dos bons costumes, da justiça, da paz e do coração amante.

 

*

 

O ano de 1970 rouba-lhe mais um ente querido. Desta vez, o seu padrasto. Felizmente, uma morte tranquila, sem sofrimento – um coração cansado que, simplesmente, deixa de pulsar. Chamada à pressa por sua mãe, Carmen corre para despedir-se daquele que tinha sido o seu verdadeiro pai e a quem ela amava como tal. Mas, nunca a morte esperou por ninguém, e quando Carmen chega já ele havia partido para sempre. Diolinda, sessenta e sete anos gastos, está como que paralisada ante a perspectiva da sua futura solidão. Não esperava perder de repente o companheiro de tantos anos, vê-lo partir antes dela.

 

– Temos de ser rápidos! O corpo começa a arrefecer. Temos de o vestir sem demora, fechar-lhe os olhos, amarrar-lhe os queixos. Depressa, Carmen!

 

Ela quase impede sua mãe de chorar.

 

– Vamos, mãe! O fato, a camisa, a gravata...

 

Diolinda, atarantada, faz questão de passar a ferro as últimas peças de roupa que seu marido vestiria.

 

– Para que é isso? – diz Simão. – Vamos ter de as rasgar para as conseguirmos vestir... 

 

Carmen reveste-se de coragem e, lado a lado com o sogro, cerra para sempre os olhos de seu “padrinho”, aqueles olhos azuis que jamais a envolveriam com a sua doçura; passa-lhe um lenço sob os maxilares e aperta-lho com um nó sobre a cabeça. Um pensamento atravessa-lhe a mente: “Como ficam ridículos os mortos, de queixos atados!...” Depois, veste aquele corpo enorme que teimava em ficar hirto; ajeita-lhe a gravata, dobra-lhe os braços, os mesmos braços que tantas vezes a seguraram no colo; e, finalmente, cruza-lhe as mãos sobre o peito. Era a sua última homenagem, a sua última prova de amor, o mínimo que podia fazer por aquele que tanto fizera por ela. Só depois, Carmen chorou.

 

Carmo Vasconcelos (Carminho)

Lisboa-Portugal

 

http://www.abrali.com/ecosdapoesia/escritores/carmo_vasconcelos_prefacio.htm

 

http://www.abrali.com/ecosdapoesia/escritores/carmo_vasconcelos_notas_finais.htm 

 

http://www.delnerobookstore.com/bibliotecas_virtuais/carmo_vasconcelos

Fale com o autor(a)

 

Todos os direitos reservados aos autores

   

 

Formatação Cecília Rodrigues