Para todos os amigos do Cecypoemas

Com um fraterno abraço e votos de um Natal Feliz e possível em 2005

 

 

POEMA PARA UM NATAL DISTANTE

 Haverá um Natal, irmão
em que todos saberemos que somos irmãos na Criação.
 
 
Haverá um Natal
em que as palavras terão um único sentido
e não poderão ser distorcidas
ao sabor do nosso entendimento e das conveniências.
 
 
Haverá um Natal
em que já nasceremos como borboletas conscientes de eternidade
e não como míseras lagartas, arrastando-nos na lama do egoísmo,
do efémero, da ilusão e da superficialidade.
 
 
Haverá um Dia de Natal
em que perceberemos que o caminho
é pela evolução consciente e pacífica
e nunca pela revolução anárquica e violenta,
pois “a grande chave” é mudar o coração do Homem.
 
 
Haverá, eu creio, esse dia
em que os nossos Egos estarão apaziguados
para sentirmos que só é bom para nós o que for bom para todos,
e saberemos praticar, então,
a igualdade e a justiça possíveis nos padrões humanos.
 
 
Acredito nesse Natal
em que estaremos o tempo todo lúcidos,
sem ignorarmos o sentido transcendente da vida
e sem temermos a “morte”.
 
 
Nesse dia distante, irmãos,
nenhum sistema político ou tecnológico permitirá duvidar de Deus,
e ninguém venderá armas para matar irmãos nossos
em troca de opulência, maior rendimento “per capita”,
equilíbrio da balança de pagamentos ou satisfação egocêntrica do poder.
 
 
Nesse Natal futuro
saberemos distinguir o supérfluo do indispensável,
sem que o Marketing e a Publicidade inventem
as nossas necessidades e carências,
e sem nos anestesiarem subliminarmente com a ilusória felicidade de TER,
pois todos estaremos conscientes da importância de SER.
 
 
Haverá, sim,
um tempo sem preconceitos e “apartheids” possíveis
porque nenhum de nós desejará ser feliz
enquanto houver um irmão terreno que o não seja.
 
 
Nessa manhã luminosa
poderemos dizer que não somos iguais
na trajectória necessariamente individual da nossa caminhada eterna;
embora irmãos na grande viagem cósmica da evolução humana;
respeitando, naturalmente,
o direito de cada um singrar o seu próprio caminho,
sem o dominarmos com ideias
e sem pisarmos as flores dos seus canteiros.
 
 
Haverá, certamente,
esse tempo cristão de dignificação do Ser Humano
em que ninguém com rosto de Homem
precisará escavar no lixo da nossa indiferença a diária sobrevivência;
e nenhuma criança inventará cascas de melão nos contentores
ou restos podres do nosso egoísmo descartável
para poder sorrir o direito de existir.
 
 
Não precisaremos de jornais para sabermos
o que gostaríamos de não saber,
nem de rádio e televisão para nos embriagarem de ilusão
ou envenenarem nossa alma com a naturalidade inaceitável da miséria,
da fome, da crueldade da guerra, das catástrofes
e do apocalipse da Dignidade Humana.
 
 
Nesse Natal,
nós mesmos saberemos dizer a Verdade uns aos outros
sem a informática, a cibernética, os satélites e as parabólicas,
e SEM VERGONHA,
de rosto ao Sol.
 
 
Nessa longínqua mas possível manhã de Natal da Nova Era,
seremos capazes de colocar a imagem do Cristo
nas montras do “Merchandising” (tão ocupado com a facturação e o IVA),
e o “Sermão da Montanha”,
para nos inspirarem
a dizer ternamente as palavras do amor que ora devemos uns aos outros.
 
 
Então,
nenhuma ideologia, nenhum partido ou “slogan”
serão necessários para nos conduzirmos:
saberemos muito bem o nosso caminho de compreensão
e de fraternidade,
e nenhum calendário marcará dias de excepção ao quotidiano.
 
 
É quando haverá, irmãos,
um Planeta sem fronteiras, Nato’s e OUA’s
onde todos os passos encontrarão Homens dignos e sinceros
que não trocam o coração pela razão, a consciência pela ciência,
e que sabem que toda a tecnologia, progresso e criatividade
só valem
se servirem o Homem e a Criação.
 
 
Deus poderá ser inventado sem ridículo,
e seremos naturalmente religiosos pela compreensão da Unidade Universal
dos átomos, das células, das galáxias, dos corações Humanos,
mesmo sem imagens, sem templos, sem passadeiras de veludo,
tão obsoletos como as Bíblias, os Alcorões, os Upanishades da nossa alienação.
Porque a palavra de passe será sempre AMOR, síntese de todos os credos,
e com ela serão inúteis todas as regras, estatutos e mandamentos.
 
 
O beijo, o sorriso e o pão
serão a moeda fraternal de troca
ao natural direito de estarmos aqui,
sem a violência, a maldade e o materialismo
da Sociedade de consumo que tornou o Homem descartável.
 
 
É quando teremos confiança, conhecimento e Paz no coração
para podermos tocar uns nos outros sem medo,
(sem lepra, sem herpes, sem psoríase ou Sida)
e trocar mensagens de esperança,
palavras de carinho e de ternura
com aqueles que cruzarem o nosso caminho.
 


 
 
Temos de inventar já esse tempo, irmãos,
sem moças a cantar ópera na estação do Metro a 2$50,
sem garotos sujos a vender a “EVA”, no Rossio, em vez da Escola,
sem emigrantes retornados a vender os “Autogrupos” da sua sobrevivência,
sem a menina do “Centro” a dizer
que “só daqui a um ano é que seremos atendidos” com a miserável pensão social, rindo da nossa necessidade;
e sem a velhota esquecida no banco do Serviço de Urgência,
esperando a transfusão da esperança
e a ternura dos filhos que a esqueceram.
 
 
Temos de acreditar nesse dia e começar a construí-lo, já,
sem megalomaníacos economistas do Crescimento, da Produção, da Rendibilidade,
sem estatísticas dos salários injustos ou não pagos,
e as nossas filhas desempregadas que se tornaram “massagistas”,
sem serem contempladas pelos “ÉCUS” da CEE.
 
 
Temos de sonhar esse Natal, ó irmãos conformados,
em que não violaremos as mulheres com o nosso dinheiro masculino
porque o Amor será gratuito e natural.
É quando já não haverá “crack” nem cocaína para iludir o vazio existencial,
nem bombas de revolta pela insensibilidade do sistema;
é quando dormiremos sem a angústia dos reactores nucleares de agora
e das bombas de neutrões sofisticadas
que nos garantem o extermínio do Ser Humano, mas não da propriedade horizontal,
consentindo-nos apenas o pesadelo de existir.
 
 
Creio, irmãos, nessa Era
sem armas e exércitos
(inúteis, pois a guerra não servirá então os interesses de ninguém),
quando o ódio, a cobiça, o desejo de dominação,
terão sido banidos do nosso coração.
 
 
É o tempo em que o “auxílio”, a “concórdia, a “cooperação”
não serão palavras mentirosas
para iludir os fracos, os pobres, os indefesos e ignorantes.
É quando não precisaremos de FMI’s, de discos para a fome,
de estandartes de simulada compreensão e amizade
nem de Natais nos Hospitais para tranquilizar a nossa consciência.
 
 


 
O Cristo exiatirá então, dentro de nós, pela primeira vez,
porque a Terra não mais será dividida em l.º, 2.º e 3.º mundos,
e porque o direito ao pão, ao sol e ao amor (sem qualquer ONU),
nascerá deveras para todos os Homens
em qualquer latitude.
 
 
Nesse amanhã distante,
não haverá Câncer, Peste Bubónica ou Sida,
nem Enfarte, Ateroesclerose e “Stress”,
porque a Natureza já não precisará corrigir o Homem,
e todos os Partidos serão Verdes.
 
 
Nesse dia de Riso, então,
já não teremos nojo de viver estes desumanos dias;
não haverá suicidas nas prisões mutilando-se ao desespero da inutilidade
nem velhos desprezados carregando a morte nas cartas de jogar
nos bancos dos jardins da Cidade indiferente,
doentes, descartados, incomunicáveis, mutilados;
nem jovens de olhos azuis vendendo as enciclopédias do desemprego,
sem destino e sem rumo,
empurrados lentamente pelo desamor da Cidade para a agulha da heroína,
na alternativa do assalto ou suicídio por falta de coerência.
 
 
Até lá, irmãos,
muitos alienados serão desumanamente operados ao cérebro
com a trepanação do nosso Prémio Nobel da Medicina
para ficarem mansos, não “chatearem” a gente,
e servirem de treino;
muitos cientistas continuarão a modificar a genética dos animais
enquanto alguns de nós derrubarão as florestas e deixarão desertos
para se encherem de dinheiro,
de Mercedes almofadados e de lindas mulheres com casacos de peles.
 
 
E os rios, o ar, a água e os alimentos
Não serão envenenados pelas grandes multinacionais,
enquanto os “Jogadores de Xadrez”
põem uma ogiva nuclear em cada canto do Tabuleiro                aproveitando a nossa distracção diária
a procurar o pão dos filhos nas calçadas quotidianas da Cidade,
vendendo artigos à comissão,
enquanto, monotonamente,
os sinos das igrejas continuam a dobrar por nós.
 
 
 
 
Eu creio, irmãos,
nesse Natal Verdadeiro que temos de inventar já,
URGENTEMENTE,
em que a vida seja digna de ser chamada VIDA
e o Homem digno de ser HOMEM.
Será quando as Mães não recearão gerar filhos, porque eles terão futuro,
os jovens poderão estudar, pois serão úteis à Sociedade a arranjar emprego compatível,
e os velhos não se suicidarão por lhes ter sido roubado
o horizonte que lhes resta nas fotos amareladas do passado.
 
 
Então, irmãos,
encontraremos o Cristo em cada Homem, renascido,
na nova Era da Fraternidade.
 
 
Então,
será realmente NATAL.
 
SERÁ, SIM, AMIGO, O NATAL, O SEU, O NOSSO,
O DOS HOMENS DE BOA VONTADE!



Vitor Figueiredo

 

(Dezembro de 1987) 
 
Poema do autor publicado em Dezembro de 1987 no “Jornal do Incrível” com o Pseudónimo de Prof. Kheops.
O tempo não o desactualizou, infelizmente.

 

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"Obrigada Victor Figueiredo, pela dedicatória especial a este site ....em nome de todos os poetas ..
Obrigada..."

Cecília Rodrigues              

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