Complementando o título eu diria:
A Sonata de Mozart e O Mundo dos
Homens
Ao ouvir estas doces notas de uma
Sonata de Mozart,
pareço mergulhar num sonho, que já não
é mais sonho.
Talvez muito mais que isto.
É quase que inacreditável, mas é a
realidade:
juntamente com esta Sonata, soam as
cascatas,
desabrocham flores, brilham os sois na
imensidão infinita,
os pássaros constroem ninhos, os seres
se proliferam no fundo do mar,
voam as gaivotas e caminham os astros
em sua evolução infinita,
tudo num canto, numa sinfonia doce e
profunda,
melodiosa como tudo o que é superior.
Música dos deuses chamaria.
Em compensação.
E juntamente ainda com essa Sonata,
como num sonho mau,
os homens apodrecem em prostíbulos,
sempre afeitos à prostituição,
bordel, taberna, botequim, cabarés,
cassinos e aos carteados,
sem sol, sem luz, sem as vibrações
sonoras da música
e da natureza que nos falam outras
falas,
de uma eternidade e infinito
longínquos.
Todos continuam – ou quase todos –
continuam vazios e nulos,
bebendo, fumando, comendo,
e elas: pintando-se por todos os lados
e se empencando de jóias,
explorando uns aos outros, tudo numa
inutilidade sem fim,
para um nada, para um escuro, para um
fim,
que ninguém sabe qual seja ou será.
Todos estão mortos.
Triste morte esta, desses que nunca
provaram à vida.
Vida comunicada pela Sonata de Mozart,
pela Natureza, pela quietude e pelo
silêncio,
pela dor consciente e pelo amor.
Vida que é plenitude, que é luz,
intensa atividade, paz e harmonia,
enfim, expressão da própria vida.