Vaidade
 

Jota Há

 

 

Foi sem querer, que fique bem claro, não tenho por hábito ficar ouvindo conversas alheias.

Certo dia caminhava em minha frente, duas senhoras, uma senhora bastante jovem, levava pela mão uma garotinha, sua filha certamente, e, sua companheira, boa aparência, mas já depois dos cinquentas. A conversa não havia começado naquele momento, elas vinham conversando, portanto o que vou contar são fragmentos daquela conversa. A senhora mais velha era quem estava contando uma ocorrência para a mais nova. A história toda deveria estar muito interessante, a julgar pela atenção, pois, enquanto uma falava a outra era toda ouvida. Caminhavam compenetradas, tanto que a garotinha falava com as duas e ninguém lhe dava a menor atenção. Para não me tornar cansativo, vou tentar resumir a parte da história que ouvi:

A senhora mais velha falando:

— Uma Noite, eu voltava para casa do trabalho. Era a época do Natal e eu vinha admirando as decorações das casas, das árvores, dos postes, tudo estava muito lindo. Ao ver um senhor idoso se aproximando, fiz um comentário sobre a beleza dos enfeites das casas. O senhor idoso não perdeu tempo, respondeu-me.

— Realmente, estão muito bonitas – disse ele – Mas não tanto como à senhora.

— Nunca podia passar pela minha imaginação que aquele senhor fosse fazer tal observação. Não me senti ofendida, pelo contrário, meu ego foi parar nas nuvens. Chamem isso de vaidade feminina ou dêem o nome que quiserem, eu fiquei muito feliz, estampei no rosto o meu melhor sorriso e segui o meu caminho. Para percorrer os últimos três quarteirões que faltavam para eu chegar a minha casa, demorei uma eternidade. Tanto era minha vontade de chegar e contar para todos os sucedido. Devido ao transito, próprio da época, eu estava um pouco atrasada, quando entrei, todos estavam já à mesa para o jantar, não poderia haver ocasião mais propícia, fui logo contando, à minha família, aproveitando que estavam todos reunidos. Houve uma pequena pausa, o silêncio foi rompido pelo meu filho mais novo de 13 anos, que perguntou.

— Que idade você disse que o homem tinha?

— Respondi que ele tinha uns 80 ou 90 anos.

— Logo vi — disse a pestinha — Falta de vista.

— Lá se foi minha vaidade, meu orgulho.

O incidente não tinha a menor importância, mas eu jantei em silêncio, senti durante todo o tempo uma vontade enorme de chorar. Embora não tenha deixado transparecer que, o comentário do meu garoto atingiu-me muito mais do que a observação daquele senhor.

Elas riram, a garota chorava, porque ninguém lhe dava atenção.

Não chorei e nem ri, afinal de contas nada eu tinha com a conversa.

"Pequenas coisas afetam pequenas mentes."

Benjamin Disraeli



 

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