Graça Ribeiro
Éramos muitas, meninas, mulheres na beira do rio.
Mães cantavam e contavam casos da lida, da casa,
falavam também dos maridos, alguns tinham partido
para a outra margem do rio sem saber se voltariam.
Às vezes as mulheres choravam.
Meninas sonhavam.. olhando o azul que lhes sorria
Ajuntavam pedrinhas para brincar de cinco marias
Sorriam muito, nadavam nuas, depois, deitadas nas pedras
ficavam olhando o céu. Sonhavam casar de grinalda e véu.
As lavadeiras cantavam:
" como pode um peixe vivo
viver fora da água fria"
As meninas também cantavam:
"- se esta rua, se esta rua fosse minha
eu mandava, eu mandava ladrilhar"
As águas cantavam também:
- "e a fonte a cantar... chuá..chuá
e a água a correr: chuê...chuê...
À tardinha voltávamos para a nossa casa
- longe das águas -
levávamos o rio dentro de nós.
" a fonte a cantar... chuá...chuá..."
Mulheres, meninas e rios. Vivencio o passado.
No presente corredeiras de sentimentos...
Saudade infinita...
Um poema ...
Aprendi na escola quando eu ainda menina
morava na cidade de Diamantina.
-Chorava sempre que o declamava
achava tão triste o destino da flor -
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Não me deixes!
Gonçalves Dias
"Debruçada nas águas dum regato
a flor dizia em vão
À corrente, onde bela se mirava:
"Ai, não me deixes, não!
"Comigo fica ou leva-me contigo
"Dos mares à amplidão;
"Límpido ou turvo, te amarei constante;
"Mas não me deixes, não me deixes...
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Foi há tanto tempo...ontem talvez...
um amor...