Quando eu era criança _ Colectânea _ Vários autores

 

Página  _ Maria  Mercedes Paiva

 

 

LÍRICA MANHÃ DA INFÂNCIA

 



Naquela madrugada cor-de-rosa da  infância
em estância campestre, enlevava-me aos
aspectos da primeira aurora  que meus olhos viram
e a mente imprimiu com tintas da estesia,
colhidas na raiz do silêncio humano,
para ouvirmos o que falava o dia:
Apresentaram-se com pujança as grandezas
das exuberâncias!
A majestade do despertar da claridade solar,
aquecendo o ar e desenrolando brumas,
como se penteasse os cabelos loiros do dia,
que se condensavam e nos deixavam ver
tudo que ao escuro da noite,  inexistia,
e ao crepúsculo matinal então surgia.
A passarada já fazia algazarras ,
chilreando em revoada....
E os altivos galos respondiam a longínquos
chamados, magistrais,
E nossas palavras logo se calavam,
para no silêncio matinal não se propagar
... não queríamos acordar as gentes,
das casinhas rurais.
Foi lindo andarmos com as águas do rio,
geladinhas em seu leito,
que à lembrança do sol esfumaçava vapores,
alcançando a abundância das
folhagens e flores fartas,
por sua existência vizinha,
que reverdecia em alegre harmonia
numa eterna e tal reverência sobre seu corpo dágua,
 que precisávamos afastá-las, para prosseguirmos,
quando então, sentíamos nas mãos infantis,
 as diferentes tecituras das folhas
de orvalho molhadas!...
Caminhávamos, acordando em seu leito,
centenas de pequeninos seixos
sob nossos pés, que os percebiam roliços!..
Nos fartávamos do aroma agreste!...
Também bebíamos dos vapores celestes,
baptizando-nos de brumas, ungindo-nos de brisas...
E ao frescor da paisagem bucólica,
todos os sons traziam encantamento:
das águas contornando pedras e escorrendo entre seixos:
das folhas e flores em bailado ao vento;
dos pássaros saudando a aurora;
de galhos que  partiam em desalento;
do assobio do vento nas folhas em quina!
dos estalidinhos do mato, sob o calor do sol,
em iniciais contactos..
E tanta profusão nos enchia, olhos,
ouvidos e coração de menina,
Que jamais se perdeu ou se perderá essa lembrança:
- refúgio, quando a mente quer descanso...
- abrigo, quando o espírito precisa de remanso.


      (Maria Mercedes Paiva)

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